HÁ 40 ANOS:
OS BEE GEES DÃO UM TEMPO NA MÚSICA DISCO COM
‘LIVING EYES’
Por Ultimate Classic Rock
A queda do sucesso comercial dos Bee Gees, esteve diretamente ligada à mudança de atitudes em relação à música disco à medida que os anos 80 se aproximavam. Até os próprios membros da banda estavam pensando onde o futuro poderiam os levar.
“Havia um medo enorme de que tivéssemos caído na mesmice, e eu senti fortemente com Living Eyes que era hora de mudar”, disse o produtor Albhy Galuten em uma entrevista para o livro ‘Tales of the Brothers Gibb’, de 2000. “Quando começamos a trabalhar [no que se tornou o 16º álbum dos Bee Gees], não estava sendo divertido e lembro-me de sentar com meus amigos na época e dizer: ‘Não está funcionando e acho que vou deixá-los. ’”
Parte da falta de clima no estúdio pode ter iniciado com a inexistência de coletividade e entendimento entre os irmãos, como grupo: todos os três contribuíram para projetos fora dos Bee Gees no início dos anos 80 (como o grande sucesso Guilty, com Barbra Streisand) e a reunião para a produção do próximo álbum, teve seus problemas.
Com a maioria das estações de rádio se recusando a tocar as músicas dos Bee Gees, em meio ao movimento anti-disco, era hora de uma nova abordagem.
O tão popular falsete de Barry Gibb, que dominou os vocais nas principais músicas do grupo no final dos anos 70, já não era mais um recurso de sucesso e uma mudança no estilo provocaria uma mudança também ao microfone.
“Meu Deus, cada single com falsete que estávamos lançando era um monstro de sucesso; e isso nos forçava a dizer que não era hora de mudar. E isso nos impediu, na época, de dizer ‘Bem, é a vez do Robin cantar os vocais principais”, lembrou Barry em ‘Tales of the Brothers Gibb’. “Mas agora que o falsete não é mais um chamariz para grandes vendas, é importante que a voz de Robin seja ouvida. E igualmente importante que a voz de Maurice seja ouvida. E está se tornando menos importante que eu seja ouvido – e é assim que trabalhamos. Não há nenhum ego entre nós três. Afinal, quem está cantando mais ou quem tem mais hits é irrelevante.”
Músicos de estúdio contratados também tomaram o lugar da banda que gravou e excursionou com os Bee Gees no final dos anos 70. Entre os recém-chegados estavam uma leva impressionante de veteranos de estúdio com grande prestígio, como Don Felder do Eagles nas guitarras, Jeff Porcaro (Toto, Steely Dan) na bateria, Richard Tee (Paul Simon, George Harrison) nos teclados, George Terry (Eric Clapton, ABBA) nas guitarras e Steve Gadd ( James Taylor, Chick Corea) na bateria, dentre outros.
A maioria do álbum Living Eyes, com a notável exceção de “Soldiers”, acabou evitando o falsete de Barry. Era um risco comercial que poderia ter atraído um pouco mais os consumidores anti-disco, mas provavelmente não seria tão bom para os fãs de Saturday Night Fever (Os Embalos de Sábado à Noite). De fato, o álbum saiu mal nas paradas após seu lançamento em outubro de 1981, chegando na 73ª posição no Reino Unido e fora do Top 40 também na América. Os singles, em sua maioria não chegaram ao Top 30.
Havia forças maiores em ação mais uma vez, argumentou Barry. “Cheguei à conclusão de que se você tiver muito sucesso neste negócio, o negócio se voltará contra você ‘”, disse ele ao New York Times em 1987. “Mas também tivemos azar. Além da reação da discoteca, O Living Eyes foi lançado enquanto nosso selo anterior, RSO, estava em processo de falência. Na semana em que foi lançado, o presidente da empresa foi demitido.”
Além disso, a RSO Records perdeu a força em promover e vender discos como antigamente. A equipe promocional foi reduzida no meio do ano porque simplesmente não tinha nenhum produto para vender. Havia também um processo Bee Gees em andamento contra Robert Stigwood e RSO Records, o que não ajudou em nada.
Os próprios Bee Gees posteriormente informaram que Living Eyes foi gravado sob pressão da gravadora e empresários, em um determinado momento em que eles precisavam repensar sua direção e carreira. Apesar disso, Barry comentou: “É nosso melhor álbum em termos de profundidade, desempenho e qualidade da produção. Trabalhamos neste álbum 11 meses, e tendemos a trabalhar mais nossos álbuns porque queremos ter certeza de que está ótimo”. Mas em 1984, Barry admitiu: “Obviamente, tivemos um susto com o Living Eyes. Não era o tipo de álbum que deveríamos ter lançado naquele momento. Soava um pouco pessimista, ao invés de ter energia. Mas estávamos tentando fazer uma mudança, nos afastar dos vocais em falsete e fazer algo que poderia ser um pouco diferente. Sabíamos dos riscos quando fizemos isso. Living Eyes era exatamente o que era necessário para nós. Precisávamos deixar de ser o que éramos antes. Isso estava nos levando a uma reviravolta. Precisávamos, naquele ponto, dar um passo atrás e olhar para nossas vidas como indivíduos “.
No final, Living Eyes acabou fazendo história de qualquer maneira: o álbum foi selecionado para ser o primeiro protótipo de CD a ser fabricado em 1981, para fins de demonstração no programa de televisão da BBC Tomorrow’s World, um programa destinado a apresentar às pessoas as novidades tecnologicas. O formato não seria produzido e distribuído ao público por pelo menos mais um ano. E de qualquer forma os Bee Gees mais uma vez encontraram uma maneira de abrir novos caminhos.
Recentemente Barry Gibb disse em uma entrevista que “Living Eyes” é um dos seus álbuns favoritos da banda.
Autor: Rafael Bonatto Biscaro
Fonte: Bee Gees – The Facebook Group Brazil – Post Público
Fonte: Bee Gees – The Facebook Group Brazil – Post Público